domingo, 7 de abril de 2013

QUARENTA ANOS DEPOIS

QUARENTA ANOS DEPOIS

O culto de hoje se reveste de uma importância especial. Estão presentes componentes da quadragésima-sétima turma de teologia. Ao todo setenta turmas desceram da colina entre 1922 e 1992.

Nem todos puderam vir. Alguns dormem no Palácio do Absoluto Silêncio e da completa inconsciência até o dia de Jesus Cristo. Outros caíram da verdade que professavam.
Na noite de formatura solene vocês deram adeus à colina. Deram adeus ao seu lar na colina, um lar fora do lar. Vocês deram adeus à colina, mas não deram adeus a Deus; antes atenderam a um chamado de Deus feito através do Mestre:
Lemos em Lucas 10:2. “Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” E no verso 3 lemos: Ide!
E a turma de 69 respondeu ao mestre com o lema: É colheita. Irei! Resposta individual que corresponde ao coletivo: Iremos! E foram!

Naqueles idos, do alto da colina Iaense, era possível ver o Capão Redondo lá em baixo... pouco adiante via-se Santo Amaro, do poeta Paulo Eiró. Mais adiante, São Paulo de Piratininga... e além o mundo com a seara amadurecendo e convidando para a colheita.

E a turma de 69 foi como tantas outras antes. Desceram da colina sagrada (sagrada por ser separada e diferente) para o mundo, mas não para serem do mundo, nem tão pouco para serem mundanos. Desceram para, no mundo, pregar o evangelho ao mundo, pregar às gentes!

Gente! Que palavra significativa e plena de sentidos. Como é solene ser gente, ver gente, conviver com gente, servir e salvar as gentes.


Gente criada por Deus, precisando de salvação. Gente (no latim gens), gentes, humanidade. Quanta diversidade étnica, linguística, cultural, moral e religiosa desde teístas até deistas, e ateistas. Desde santos até diabos.

Gentes! Para salvar as gentes, a divindade que criou as gentes, se fez gente, viveu e morreu como gente no lugar das gentes (encarnação).

É preciso pregar isso às gentes. E a turma de 69 desceu da colina e foi às gentes do mesmo modo que a turma de 22, a primeira, foi rumo ao mar das gentes, conforme seu lema.

Nos anos 60, do alto da colina, olhando o mundo lá em baixo, dava para perceber que eventos vários indicavam uma seara em rápida maturação. Era de fato tempo de colheita!

Dava para ver como no contexto existencial, a humanidade estava sendo fortemente marcada, por novas ideias que geravam novos comportamentos.


Os anos 60 passaram a ser conhecidos como a década estranha, a década da grande virada, a década perdida. De fato, foi a década da onda existencialista de Jean Paul Sartre com sua pregação exposta na sua obra: “Do Nada Para o Nada”, onde a existência é valorizada em detrimento da essência. O importante não é como a gente é, mas o modo como a gente escolhe viver.

Década da pregação hedonista de Santayana afirmando: Para o nascimento e para a morte não há remédio. Aproveitemos o intervalo ( a existência) ou comamos e bebamos porque amanhã morreremos.

Década do é proibido proibir pichados nos muros da Sorbonne. Década em que ganha força a ética situacional, endeusando situações e contextos em detrimento da ética construída sobre princípios cristãos, indicando modos de comportamento.

Década do incremento da amoralidade quando mais e mais procedimentos passam a não ser nem certo nem errados. Simplesmente são. E assim sai fortalecida a ética da escolha entre o mal maior e mal menor.

Ganha força assim a ideia de que é certo aquilo que é escolhido. Quando o homem escolhe, coloca-se acima do bem e do mal. Na ética cristã a escolha valida a ação para efeito de julgamento, mas não a torna necessariamente certa. Quando o homem escolhe, ele se coloca ao lado do bom ou ao lado do mal.

Eu 1967 a revista Cristianity Today, ao analisar as novas ideias em gestação, vaticinou profundas mudanças para o mundo na terça parte final do século XX. Por exemplo, refletindo estes tempos surge o Rock, uma mistura de histerias com parvoíce, que passa a mexer com muita gente. A música Help, na época, colocou os Beatles nos píncaros da glória.

Nessa década ocorreram ainda outras grandes mudanças: o mundo entra na era espacial que culmina com a descida do homem na Lua em 20 de julho de 1969 e na era dos transplantes com o primeiro transplante do coração realizado pelo Dr. Barnard em 1962.

Há até hoje novidades no mundo infantil com o lançamento em 1962 de um modelo mecânico de gente, a boneca Barbie com perfil corporal longelíneo julgado inatingível pelas gentes. Milhares foram vendidas em poucos dias e não só crianças passaram a colecioná-las.

Uma boa notícia do fim da década. Surge a Faculdade Adventista de Enfermagem (FAE), uma faculdade pioneira por ser no Brasil a primeira escola superior adventista a receber reconhecimento oficial. Logo tornou-se referência denominacional e nacional. A partir de então podia-se ver gente de branco caminhando, indo e vindo, pelas alamedas iaenses, na verdade alamedas sem álamos que a princípio eram ladeadas por ciprestes. E por falar em álamos, lembro-me da antiga canção infantil que dizia: “Quero ser como um álamo que não quebra mesmo que o vento o dobre” (faz lembrar os álamos verticalmente eretos na Argentina que protegem as macieiras dos frios e fortes ventos hibernais).

É importante lembrar que embora nas alamedas iaenses não havia álamos vegetais, havia na escola pessoas comparáveis a álamos morais, verticalmente eretos que não quebravam mesmo quando dobrados pelo vento.

Poucos anos depois, já em 1973, surge no cenário iaense a Faculdade Adventista de Educação (FAED) para formar educadores. Agora, gente de azul e branco também é vista subindo e descendo as alamedas.

Indo para a colheita. Ao mundo dos anos 60 foram os formandos de 69 de acordo com o lema que escolheram. E a seara amadurecia rapidamente. Basta lembrar. Quando vocês partiram havia no Brasil adventista três uniões, 555 igrejas com 150.000 membros e 341 escolas com 17.770 alunos.

Hoje, 40 anos depois, há seis uniões, mais de 5.000 igrejas com 1.200.000 membros e mais de 400 escolas com mais de 100.000 alunos. Teologandos de 69. Vocês têm parte nesses resultados!

Quarenta anos... Voltando a pensar em 40 anos, me vem à mente o povo de Israel, após a sua jornada de 40 anos. Em Deuteronômios 4:32 lemos palavras de Moisés dirigidas ao povo de Israel 40 anos depois da saída do Egito, junto ao rio Jordão, à vista da terra prometida: ( Primeiro discurso de Moisés).

Pergunta (Israel) pelos tempos passados: Antes de entrar em Canaã devia perguntar pelo passado, especialmente pelos últimos 40 anos. Deviam fazer uma retrospectiva, percorrer os arquivos da memória... recordar como Deus os guiara! Aos jovens, de memória mais curta, Moisés diz: Pergunte aos anciãos! (Deut. 32:7 no seu quarto discurso).

Indo agora ao nosso contexto, quarenta anos depois da formatura, e perguntando pelos tempos passados, o que eles revelarão?

1) Estamos imersos no tempo! O tempo passa. Bem dizia o poeta que o tempo passa trazendo consigo ventura e desgraça e levando as vaidades da vida! O tempo flui célere marcando tudo na sua passagem. A passagem do tempo nos confere o senso de história: Sentimo-nos datados, marcados pelo tempo.

Somos capazes de distinguir o ontem do hoje e ainda pressentir o amanhã. Somos capazes de distinguir o agora do outrora. Mas com isso tudo passa, tudo muda, tudo começa, tudo termina.

Passamos como a erva. Como a névoa desvanecemos. Passamos como um conto ligeiro ( Moisés, Salmo 90:9).

“Sic transit gloria mundi, pulvus et umbra summus” é o que vemos escrito em muitos cemitérios.

Importante! Falta às cousas, aos seres, às glórias deste mundo a qualidade da eternidade que só Deus possue. Só Deus não passa e não muda. Só Ele não tem começo nem fim e pode dar ao que nEle crer um bom fim, ou um fim sem fim.

Ele mesmo disse:
Eu o Senhor não mudo! Eu Sou. Eu Sou o que Sou! Ele simplesmente É! (terceira pessoa do presente do indicativo do verbo Ser)


Por isso, confiemos em Deus.


2) Ao perguntarmos pelos tempos passados, logo descobriremos a marcante fugacidade das estações da vida.


Como passaram rápidas a mocidade primaveril e o verão existencial. Chegamos à quadra outonal da vida quando as folhas começam a cair... é a marca do outono! Mas... lembremos... antes de caírem ficam douradas... e depois de caídas ainda emolduram e douram o chão sobre o qual caíram.

Por isso, em se tratando de gente podemos falar de glória outonal ou chamar de anos dourados os anos da terceira idade. Interessante é a observação feita por Bernard Shaw: Pena que tenhamos que viver a juventude nos anos da mocidade (que tal viver a juventude na terceira idade?)

Voltando ao outono da vida. Embora os cabelos comecem a ficar grisalhos... e os anos comecem a pesar, muito conhecimento, experiência e sabedoria vivencial podem estar acumuladas atrás deles!

Vou dizer algo solene que aprendi: os muitos anos bem vividos sabem cousas que os poucos anos ainda não sabem... os muitos anos bem vividos possuem sabedoria “envelhecida”, e sazonada pela experiência e pelo tempo.

Importante! Do alto dos muitos anos bem vividos se vê mais longe, se enxerga melhor, se descortina uma paisagem existencial mais ampla. Ter um PhD em anos bem vividos vale mais que qualquer tipo de títulos doutorais alcançados.

3) De novo: Pergunta aos tempos passados! E logo surgem lembranças...

Lembrança, quanta lembrança dos tempos que lá vão, quem céleres passaram quais bolhas de sabão... coloridas ou não!

Lembranças, entre elas boas lembranças emolduradas pela saudade. Saudade, que profundo sentimento humano que com nostalgia colore lembranças. Saudade! Que solene é sentir saudades, levar saudades e deixar saudades.

Lembrança. Recordação. Tremenda qualidade da memória humana que permite rever e reviver agradáveis cenas pretéritas, ainda que virtualmente!

Caros formandos de 69. No vosso caso, algumas boas lembranças podem ser evocadas: A chegada ao IAE dos anos 60. As novas expectativas e os novos ideais. O sino marcando os tempos, tocando e dobrando. Os marcos sabáticos separando o tempo sagrado no alto da colina. O dia de formatura solene. O último adeus à colina depois da formatura. A chegada ao campo de trabalho. E os 40 anos se sucedendo e marcando a tudo e a todos.

Lembranças! Algumas vêm emolduradas de lições de vida, para aprender, para praticar e para não esquecer...

Lembranças! O senso de guia do Espírito Santo, nosso educador e diretor, avivando nossa memória, fazendo lembrar, falando em nós, falando por nós!

Lembranças! Os caminhos da Divina Providência que nos guiou e nos guardou através de tantos anos.

Uma boa lembrança! É tempo de não esquecer de agradecer!

Depois da recordação, gratidão! A gratidão é grande virtude cristã. Paulo escrevendo aos Efésios diz: dando sempre graças a Deus por tudo (Efésios 5:20).

O ato de agradecer é tipicamente humano. A gratidão é irmã da humildade, da sensibilidade, e da piedade. O espírito de gratidão é um bom indicador de refinamento pessoal e de boa educação... Gratos por tudo, mesmo pelas cousas mais simples da vida.


Só seres humanos podem ser gratos. Na verdade, seres humanos devem ser gratos a Deus a aos homens. Ser grato é saudável. Faz bem a quem é grato e faz bem a quem se é grato.

Hoje, nesse culto:
Graças a Deus por seu poder criador, mantenedor e salvador. Nele e por Ele é que nos movemos e existimos como disse o apóstolo Paulo aos sábios de Atenas (Atos 17:28).


Graças a Deus por sua Revelação aos homens através de Jesus Cristo, da Bíblia, da natureza (segundo livro de Deus), da História, e do trato divino com pessoas de todas as idades e todas a etnias, povos e nações.

Graças a Deus pelos anos já vividos e pelas vívidas lembranças de tempos idos guardadas no relicário da alma. Seria uma pena se não pudéssemos guardar boas lembranças.

Graças a Deus por sua bondade que dura para sempre (amor, bondade e verdade são marcas do seu caráter segundo Ellen G. White) e pelas centelhas de bondade que ainda cintilam no coração humano.

Graças a Deus até pelas pedras no caminho (provas) e quantas devem ter sido encontradas nos 40 anos da longa jornada! Ainda assim gratos, pois com pedras se pode construir alicerces, degraus, pontes, altares, colunas e torres apontando para o céu.

Gratos também aos homens (isso é saudável) aos conjuges, filhos, netos, parentes, colegas, companheiros de trabalho, professores. Enfim, a todos por seu apoio, orações, amizade, companheirismo, exemplo e inspiração.

Também um reconhecimento aos que já foram, pelo que foram quando em vida. Em suma, gratos, muito gratos cada vez mais gratos à medida que os anos outonais continuam passando.


A Gratidão leva à Reconsagração

Reconsagração implica em decisão; mesmo 40 anos depois do Irei, é tempo de decidir!

Decidir pela graça de Deus:

Ser ainda melhor nos anos que ainda restam.

Fazer ainda melhor o que tiver que ser feito, mesmo que haja muito menos para fazer.

Cada ano que passa deve aumentar na alma o anseio por perfeição de caráter (White). É tempo de rever, e confirmar princípios de vida vividos e defendidos. É tempo de ainda estabelecer princípios para serem vividos nos anos que ainda estão pela frente. É tempo de confiar em Deus ainda mais. Mais e mais, muito mais, mesmo que não saibamos porque muitas cousas foram como foram.

Mesmo que muitas cousas que queríamos que fossem, não foram e outras que não queríamos que fossem, foram. É bom lembrar. Para Deus não há nem passado, nem futuro. Para Deus tudo se passa como se fosse um eterno presente!

Um dia se saberá porque tudo foi como foi.

Agora é Tempo de Orar Mais

A oração é a respiração da alma especialmente necessária nos anos outronais. Um belo pensamento sobre a oração assim reza!

Existe um invisível escultor que burila, esculpe, cinzela a face daquele que em oração e em comunhão com Deus, vive em elevada atmosfera espiritual. Ainda é tempo de ser uma inspiração para as gentes não tanto pelo fazer, mas pelo ser. Inspirar pelo testemunho pela fala vívida e da vida vivida.

A inspiração proveniente de uma vida bem vivida é como o bom perfume de Cristo, numa fragrância de vida para vida (II Cor 2:15) uma sinfonia odorífera existencial, à semelhança do máximo na perfumaria, a fragrância Channel n. 5 de 1926, uma 5 sinfonia odorífera...

Ainda é Tempo de Servir;
Mesmo depois de tanto serviço prestado. Pouco valor têm o viver e o saber se não forem para servir.
Ainda é Tempo de crescer, de voar

Se não for possível voar mais alto, planar! Planar nas alturas, na vastidão das experiências vividas. Planar vendo longe, além! Vendo longe, seja com os olhos do corpo, seja com os olhos da fé!

Concluímos com as palavras de Paulo aos filipenses: Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós (40 anos atrás) há de completá-la até o dia de Jesus Cristo.